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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

BUSHIDO - 武士道

“A vida de alguém é limitada; a honra e o respeito duram para sempre.” (Miyamoto Musashi)

 
Hoje vivemos numa sociedade sem ética, moral e respeito ao próximo, sendo certo que todos (sem generalizar claro), por mais que saibam que determinadas atitudes estejam erradas sempre pensam primeiramente no próprio bem estar, sem se importarem com quem irá ser prejudicado.

Preceitos como honra e respeito ao próximo, mesmo que este seja seu inimigo era um código de conduta utilizado por samurais no Japão feudal, época do chamado “Shogunato” (entre os séculos 12 e 19) em que homens utilizavam seus ensinamentos, suas espadas e suas próprias vidas para a proteção de uma sociedade e acima de tudo mantendo uma vida regrada e baseada em conceitos hoje totalmente esquecidos ou mesmo impossíveis de serem praticados, tendo em vista a sociedade em que vivemos e os valores que são pregados.

O que me leva, também, a escrever sobre o presente tema é a proximidade das eleições em nosso país e o que hoje a política representa (ou não) para mim.

Primeiramente destaco alguns diálogos que tive com minhas filhas: Viviane (minha mais velha) tem 9 anos e Thamires (minha filha do meio) com 5 anos.

Sempre que posso levo e busco as duas na escola e no caminho “travamos” alguns “debates” interessantes, senão vejamos:

Certa vez ao atravessarmos a rua, um carro simplesmente avançou o sinal e, naquela ocasião enfatizei, que tendo em vista essas atitudes deveriamos tomar muito cuidado mesmo com o sinal fechado/aberto, olhando para os dois lados ao atravesar, então Thamires me perguntou se os carros não tinham que parar. Eu disse “claro que têm senão a polícia...” e Thamires logo disse: “atira no carro papai?”, “...não claro que não minha filha a polícia pode multar o carro” E ela novamente disse e “atira também, a polícia atira em todo mundo!” e eu afirmei que não era essa a verdade.

Então Viviane entrou na conversa: “Será que multam mesmo papai?” E eu disse: “Claro filhinha, pois, é errado ultrapassar o sinal fechado!” E ela disse: “Mas nem todo policial vai multar não é mesmo!” E eu falei: “Olha minha filha porque você está dizendo isso?” E ela me disse: “Porque tem muitos que são corruptos” Aquilo me deixou perplexo e, claro, questionei porque ela pensava assim e logo em seguida ela mudou de assunto.

Mas Thamires ainda falou “a polícia mata criança e várias pessoas papai, eu tenho medo da polícia”, e eu disse não minha filha ela só mata por engano, quem mata são os bandidos, ladrões (mas claro que no fundo estava triste por ser um pouco de verdade, tendo em vista os noticiários que somos bombardeados todos os dias, com a mídia distorcendo e invertendo os papéis, bem como a nua e crua realidade cotidiana).

Aquela conversa me entristeceu, pois, vivemos sim numa realidade distorcida e a inversão de valores é gritante, chegaremos ao ponto de nossas crianças não saberem qual a diferença entre o bem e o mal, o mocinho e o vilão?! Antigamente era fácil saber, mas hoje...

Como se não bastasse ainda “discutimos”, noutra ocasião, sobre quem era candidato a presidente, governador, o que fazia um deputado e de repente volta a tona a mesma pergunta, feita, por Viviane: “O Lula é corrupto papai?”, “o que você acha da Dilma e porque não vota nela?”, fiquei numa encurralada e gaguejei algumas desculpas desconexas me quedando em silencio depois, talvez por covardia na ocasião ou prudência, pois, elas provavelmente não entenderiam meu ponto de vista e o porquê cheguei à conclusão de que hoje não tenho mais ilusão quanto a “nossos” representantes tanto no governo quanto no congresso nacional e para quem está começando agora seria com um “balde de água fria”, não é mesmo?!.

É triste, mas a realidade é que falta a todos o verdadeiro conceito de ética e moral. São palavras que hoje até vemos muito divulgadas. Existem códigos de ética de profissões (do advogado, por exemplo), do servidor público, existe princípio da moralidade difundido em vários livros de doutrinas, em provas de concurso público, o que nos levaria a acreditar que seja algo constantemente utilizado por todos, o que não é verdade!

Por isso o ponto nevrálgico do tema hoje é o Bushido (em japonês: 武士道), que significa, literalmente, “caminho do guerreiro” e trata-se de um código de conduta e o modo de vida para os Samurais viverem e morrerem com honra.

Era tão necessária a honra que caso algum samurai tivesse qualquer conduta indigna o mesmo praticava suicídio, que no caso deles era praticado através de um ritual onde eles se preparavam com banhos de purificação, escreviam poemas e tinham testemunhas, o mesmo era chamado de “Haraquiri” e significava algo como (“cortar a barriga”) ou “Seppuku” (“cortar o ventre”), que seria uma expressão mais nobre para este ato, o ritual também podia ser realizado no campo de batalha, para evitar a captura pelo exército inimigo.

Um ditado samurai diz o seguinte: “Perca a honra e a vida também estará perdida”

O Bushido foi formado e influenciado pelos conceitos do Budismo, Xintoísmo e Confucionismo. A combinação dessas doutrinas e religiões formaram o código de honra do guerreiro samurai, conhecido por Bushido.

Em função das influências do Budismo, os samurais não temiam a morte, pois acreditavam na existência da vida após a morte: (ex: kamikazes) renasceriam no encargo de guerreiro em suas contínuas reencarnações. Os samurais também não temiam os perigos, uma vez que as técnicas de meditação do Zen foram usadas como um meio de limitar esse temor. Com os ensinamentos Zen, os samurais buscavam entrar em harmonia com o seu “Eu interior” e com o mundo à sua volta. O desapego era a base do samurai e, com a prática do desapego, os samurais formaram a maior casta de guerreiros que já existiu.

O Bushido foi influenciado também pelos preceitos do Xintoísmo, como a lealdade, o patriotismo, e a reverência aos seus antepassados. Com tal lealdade para com a memória de seus ancestrais, os samurais empenhavam essa mesma reverência ao imperador e ao seu daimyo ou senhor feudal. O Xintoísmo também fornece a importância para o patriotismo com o seu país, o Japão. Eles crêem que a Terra não existe apenas para suprir as necessidades das pessoas. "É a residência sagrada dos deuses, dos espíritos de seus antepassados…" A Terra deve ser cuidada, protegida e alimentada por um patriotismo intenso.

O Confucionismo oferece ao Bushido a sua crença em relação aos seres humanos e às suas famílias. O Confucionismo ressalta o dever filial e as relações entre senhor e servo, pai e filho, marido e mulher, irmão mais velho e mais novo e entre amigos mais velhos e mais novos, que são seguidas pelos samurais. Junto com estas virtudes, o Bushido também prega a justiça, benevolência, amor, sinceridade, honestidade e autocontrole. A justiça é um dos principais fatores no código do samurai, assim como o amor e a benevolência, que são suntuosas virtudes dos samurais.

O seu maior princípio era buscar uma morte com dignidade.

Já imaginaram como ficaria manchado de sangue o chão de nosso Congresso Nacional?

Um samurai jamais poderia se entregar e deveria estar sempre preparado para a morte. Além disso, a honra do samurai, de seus antepassados e de seu senhor deveria ser preservada por ele. Outros aspectos importantes é que um samurai jamais pode fugir de uma luta. Mesmo apenas um samurai contra um exército de oponentes, ele não pode abandonar a luta. O samurai também deve estar sempre do lado da justiça e ter compaixão com seu inimigo derrotado ou mais fraco. Lealdade, etiqueta, educação e noção de gratidão eram outras coisas que o Bushido pregava. Um samurai honrado deveria ser leal ao seu daimyo (senhor feudal), Shogun e Imperador.

No geral, guerreiro é aquele que procura o seu próprio caminho. Muitas pessoas podem estar perfeitamente a procurar o caminho sem se darem conta disso. Guerreiro é a pessoa que tem um objetivo e que, por meio deste, passa a ter consciência do seu dom e das suas limitações. Através dessa consciência, o guerreiro atinge a sua meta, combinada com a vontade de vencer as fraquezas, temores e limitações.

Tenho um grande amigo guerreiro (Márcio “Barracos”) que sempre se espelha nos preceitos do Bushido, por mais que seja difícil seu caminho, certo é que ele sempre encontra meios para discipar determinadas pedras e podar certas arestas, superando até mesmo o seu ímpeto inicial de um combate cego, no meio do caminho, creio que após uma boa reflexão, ele sempre retorna ao caminho específico.

Cada pessoa trilha o seu próprio caminho, já que existem vários caminhos: como o caminho da cura pelo médico, o caminho da literatura pelo poeta ou escritor e muitas outras artes e habilidades. Cada pessoa pratica de acordo com a sua inclinação.

Porém, no Bushido, a palavra guerreiro significa muito mais do que isso. O termo “bushi” não pode ser designado a qualquer um. O “bushi” é diferente, pois seus estudos do caminho baseiam-se em superar os homens. A casta guerreira distingue-se das demais pela sua fidelidade e honra, a palavra do guerreiro vale mais do que tudo.

O caminho do guerreiro é o caminho da pena e da espada, esse conceito vem do antigo Japão feudal e determinava que o guerreiro (bushi) dominasse tanto a arte da guerra quanto a leitura e que ele deve apreciar ambas as artes. O “bushi” deve aprender o caminho de todas as profissões, se informar sobre todos os assuntos, apreciar as artes e quando não estiver ocupado em suas obrigações militares, deverá estar sempre praticando algo, seja a leitura ou a escrita, armazenando em sua mente a história antiga e o conhecimento geral, comportando-se bem a todo momento para ter uma postura digna de um samurai, tudo isso sem desviar do verdadeiro caminho, o Bushido.

A etiqueta deve ser seguida, todos os dias da vida cotidiana, assim como na guerra pelos samurais. Sinceridade e honestidade são as virtudes que avaliam as suas vidas. Transcender um pacto de fidelidade completa e confiança está ligado à dignidade. Os samurais também precisavam ter autocontrole, desapego e austeridade para manter a sua honra, em função disso, podemos dizer que o samurai é o guerreiro completo e o seu código de honra - o Bushido - tem forte influência no estilo de vida do povo japonês e oferece uma explicação do carácter e da indomável força interior desse povo.

Para o Bushido, o caminho do guerreiro exige que a conduta de um homem seja correta em todos os sentidos, dessa forma, a preguiça é um mal que deve ser abominado. Mas existem problemas quando a pessoa se apoia no futuro, pois torna-se preguiçosa e indolente, já que deixa para amanhã, aquilo que poderia ser feito hoje. Pessoas que agem dessa maneira, não seguem o verdadeiro preceito do Bushido, que de um modo geral, é a aceitação final da morte.

Se o guerreiro tem plena consciência da morte, evitará conflitos, estará livre de doenças, além de ter uma personalidade com muitas qualidades e diferenciada às dos demais seres humanos. O guerreiro vive o presente sem se preocupar com o amanhã, de modo que quando contempla as pessoas, sente como se nunca mais fosse vê-las novamente e, portanto, o seu dever e consideração às pessoas serão profundamente sinceros. O verdadeiro guerreiro é aquele que aceita a morte, dessa maneira, ele não se meterá em discussões desnecessárias que venham a provocar um conflito maior, já que assim ele pode acabar sendo morto e isso resultaria na sua desonra ou afligiria a reputação e nome de sua família. Se a idéia de morte é mantida, será cuidadoso e susceptível de ser discreto e não dirá coisas que ofendam às outras pessoas. Também não cometerão excessos doentios com a comida, bebida e sexo, usando a moderação e a privação em tudo, permanecendo livre de doenças e mantendo uma vida saudável.

Quando a Segunda Guerra chegou ao fim, o Japão era um território totalmente destruído. Mas, em menos de 30 anos o país se tornou a segunda maior potência econômica do planeta. Esse inegável sucesso intrigou o mundo ocidental e fez os maiores especialistas se debruçarem sobre o fenômeno. Hoje, já se sabe que um desses segredos foi a herança do Bushido (Caminho do Guerreiro), o código de conduta dos samurais.

O guerreiro que melhor representou esse espírito foi Miyamoto Musashi, o mais habilidoso espadachim japonês que viveu entre 1584 e 1645. Pouco antes de morrer, ele escreveu Go Rin No Sho (O Livro dos 5 Anéis), um complexo tratado filosófico destinado a seus discípulos.

 
O bushido tinha como principais itens:

1. A busca de uma morte digna. O samurai deveria estar pronto para morrer a qualquer momento;
2. A preservação da honra pessoal, de seus ancestrais e de seu senhor;
3. Ao falhar ou manchar sua honra, dos ancestrais ou de seu senhor, o samurai teria de cometer o suicídio ritual, o seppuku;
4. O guerreiro deveria sempre carregar consigo o seu par de espadas. A espada era a sua alma;
5. Ser corajoso. Melhor morrer do que ser chamado de covarde;
6. Ser justo e benevolente com os mais fracos, mas exigir respeito;
7. Manter sua palavra a qualquer custo;
8. Dedicar-se às artes como forma de aperfeiçoamento;
9. Ter gratidão à família e às pessoas que o ajudaram;
10. Lealdade ao seu senhor e dedicação ao trabalho.

Algumas citações clássicas japonesas influenciadas pelo Bushido:
“Os homens devem moldar seu caminho. A partir do momento em que você vir o caminho em tudo o que fizer, você se tornará o caminho.”

“Um samurai deve antes de tudo ter sempre em mente, dia e noite, desde a manhã de ano novo, quando pega os palitos para comer e tomar café, até a noite do último dia do ano, quando paga suas faturas, o fato de que um dia irá morrer. Essa é a sua principal tarefa.”

“Seguir o bushido é dar ênfase à lealdade, fidelidade, auto sacrifício, justiça, modos refinados, humildade, espírito marcial, honra e, acima de tudo, viver e morrer com dignidade”.

Os samurais desapareceram do Japão no período Meiji, com a perda de sua hegemonia e de seus privilégios. Algumas escolas desses guerreiros sobreviveram e ensinam o que atualmente é chamado de “kenjutsu”.

Para aprofundar mais sobre o tema, caso queiram, aqui vai algumas dicas:

Livros:

- O Livro dos Cinco Anéis - Miyamoto Musashi;
- Bushido O Código Do Samurai – Daidoji Yuzan;
- Bushido: O Caminho do Samurai - Tsuramoto Tashiro;
- Estratégia Samurai –Boyé Lafayette De Mente;
- Samurai – O Lendário Mundo dos Guerreiros – Stephen Turnbull;
- Enciclopédia dos Samurais – Stephen Turnbull;
- O samurai - A vida de Miyamoto Mushasi - William Scott Wilson;
- Shogun – James Clavell;
- A Arte da Guerra – Sun Tzu.

Filmes:

Vale ressaltar que um dos diretores que mais se dedicou e com maestria a contar a história dos samurais é Akira Kurosawa:

- Os Sete Samurais (1954) (O melhor de todos de Kurosawa na minha visão);
- Trono Manchado de Sangue (1957);
- Yojimbo (1961);
- Sanjuro (1962);
- Ran (1985) (vencedor de Oscar e baseado na obra de Shakeaspeare “Rei Lear”) :
- Depois da Chuva (2000).
Dentre vários outros do Mestre Kurosawa, mas estes valem mencionar.
- Shogum (1980) dirigido por Jerry London e baseado na obra de James Clavell, já citado acima;
- O Último Samurai (2003), com Tom Cruise;
- Zatoichi (2003).

E vários outros, portanto, meus amigos guerreiros, devemos cultivar valores como se fossemos samurais modernos baseados em códigos de conduta com valores morais e sempre cobrarmos de nossos governantes além de exemplos, o mínimo de decência para com a máquina do Estado tem a finalidade única de conduzir o “bem comum”.

 
Cuidado na hora de seu voto, que é a única maneira de conduzirmos o destino de nosso país, estado, cidade e, conseqüentemente o futuro de nossos filhos, grande abraço a todos.




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