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sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A Brabeza do Fraco (José Vitório Bahia)

Peço vênia a meu prezado Tio José Vitório Bahia para postar seu texto, por acreditar ser oportuno no Blog uma justa homenagem às origens (terra natal) e também porque, diga-se de passagem o texto é muito engraçado e bem escrito, vale mencionar que o texto foi extraído do site www.jornaldacanastra.com.br, parabéns Tio e um enorme abraço, caso leia o presente artigo.


Nossa querida Bambuí merece respeito e somente quem é de lá é quem realmente pode falar mal dela!!!

A Brabeza do Fraco
(José Vitório Bahia)
  Remontando-nos às entradas dos sessenta, na pequena praça, entre idas e vindas, entre o murmurinho e o reboliço das crianças, as promessas e juras subitamente se interrompem:

  “Ouvintes, boa noite... No ar Cacique a voz amiga de Bambuí”. As últimas do esporte, a excursão da AEB, a expectativa da estréia do Zé Morgado com a camisa alviceleste...

   O rapaz com frases de efeito e melosamente tenta convencer e firmar com a pretendida.

  Atentos à passagem da “eleita” e a ”vice-eleita”, nas incontáveis voltas do “footing”, percebemos dois indivíduos, como numa tomada e aproximando o foco, vindo do antigo Club Social de Bambuí:

  Uma cena espremida na tela da imaginação, dois representantes da ala jovem da comunidade bambuiense, braços cruzados, ora mãos nos bolsos, eloqüentes construções gramaticais, o futebol, suas atuações, a desastrosa atuação do goleiro, um deles, chama a atenção pela sua magreza, tão seco quanto Dom Quixote, macilento, o outro um pouco mais gordo nada distante.

  Curiosamente os habitantes fixam-se na praça no primeiro ponto de sua chegada, os do cerrado, os dois são de lá, naquele local próprio deles.

  Já um pouco mais tarde, “a voz amiga” calou-se, menos movimento, não buscam as “preferidas” já se recolheram.

  Dormir? Não! A noite é uma criança, como se fossem dois experientes boêmios.

  Ainda tem o noturno, que vem de Uberaba. Divagando e devagar tomam a direção, mas é claro que é à estação, sem dinheiro, onde mais poderia ser? Logo encontram o Benedito do Correio, informa que o trem está na hora.

  Despreocupadamente os dois peripatéticos, são ultrapassados pelo Elias carregando a mala da senhora importante que afobada quer, logo chegar, para comprar sua passagem, ganham distância e somem.

  Pode-se agora ouvir o seu próprio tropel, agora farfalhado nas pedrinhas até a rampa que leva à plataforma. O trem já partiu de Tapiraí. A mulher importante ajeita-se posiciona para pegar o trem.

  Novas voltas, também se postam o esquálido D. Quixote, “cavaleiro de triste figura e seu fiel escudeiro”, aguardam o trem chegar. Ouve-se os primeiros ruídos, ainda um pouco e o teremos.

  Surge lá na curva do Armazém do Habib com seu forte facho de luz, parece agora diminuindo marcha e som. Olhos atentos, a máquina indiferente sem esforço passa pelos dois desocupados, passa um vulto vermelho, para se ocupar a daí a pouco. Freou-se irritando com um som de freio de trem, parou.

  Inicia-se a peregrinação vai até a cabeça e volta para o rabo. O magricela assobia mais fino, ágil desvencilha facilmente entre os aflitos e alguns contentes da chegada, balança a cabeça e contrai os lábios sinal de nada de bom aconteceu. Quase no último carro, antes do leito, um passageiro de feições nobres, bem vestido e apessoado, descortina a vidraça, baixa o vidro mete a cara para fora, após lançar com desdém olhar sobre as tênues luzes, uns tomates, voz empostada diz:

  “- Õ cidade abacaxi, ô bomba, ô roça!”

  Era Bambuí, vista da estação, no seu humilde e adormecido jeitão. Antes de dizer mais uma palavra, mau soara “ô roça” o magricela estacou-se, dedo riste exibindo sua pálida figura, pausadamente com todos os “ps e fs” e de sopetão:

  - Olha aqui seu fedepê, sem vergonha, vai pra p... que te p... Fale alguma coisa mais da minha cidade que te dou um tiro na boca. Cachorro!

  Surpreso também ficou o “ Sancho” que nunca vira o magrelo tão bravo, a ponto de dar um tiro, pensou vamos ver no que dá .

  O infeliz passageiro, atônito e estupefato, petrificou-se, recolheu-se à sua insignificância...   Um tiro... na boca ... era todo pavor.

  O que se podia esperar do magricela e ranheta, que percebeu-se dono da situação e recebeu apoio do colega agora lívido.

  - É isso mesmo dá um tiro na boca desse panaca, pra aprender a respeitar a terra dos outros.

  Não havia muito alarde de tal maneira que poucos ouviram. O trem não saía para desespero do passageiro.

  Duas batidas è o sinal da partida, o magro ainda dedo riste, tal como um “galinzé”, com “brabura” e firmeza ainda ameaçava o pobre infeliz.

  O trem soltou os freios começou a embalar acompanhado pelos dois da terra ofendida, até a ponta da plataforma. O trem sumiu na escuridão da curva da gabiroba.

  De volta à realidade, entre risadas estripulentas.

  -“Você viu como ele ficou branco ? Suava frio. Será que ele borrou nas calças ? Agora refeitos do susto o menos magro aparteou:

  - Peraí, você ia dar tiro com o quê? Se você só tem no bolso um pente Flamengo

  O pálido herói ganhou as ruas do”Tomatal”, e nunca mais se viu o debochado viajante.

Muito obrigado Abrão, Dom Quixote caipira, Bambuí fora vingada.

  “Quem não ama a sua terra e não defende o seu idioma , entrega primeiro, a alma ao estrangeiro, antes de ser por ele absorvido” ( Rui Barbosa )

Um comentário:

  1. Este teste data da época do centenário de Bambui e saiu no Jornal O DIALOGO do Olo Torres, me parece que veio diretamente de lá para o FOLHA DA CANASTRA, nao sei se veio na íntegra.
    JVB

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